Quantcast
Channel: VSP
Viewing all 683 articles
Browse latest View live

Gaúcho 70: assistente de câmera

$
0
0


Durante muito tempo, Gaúcho trabalhou como assistente de câmera. Ele cumpriu essa função em 27 longas-metragens. Aqui o técnico comenta seu relacionamento com o diretor Eduardo Llorente, com quem trabalhou em Maria...Sempre Maria (1978).


É curioso. Fui contratado inicialmente no Maria...Sempre Maria como assistente de direção. Mas teve uns atrasos da produção. Fui trabalhar em outros filmes. Mas a produção ficou emperrada durante algum tempo. Por isso, depois acabei trabalhando naquele filme do Llorente como assistente de câmera.

O Llorente tinha um problema...a visão dele era comprometida. Usava um óculos quase de fundo de garrafa. Muito falante, teórico, muito teórico. Ele conhecia porque era um dos poucos cineastas no Brasil com grau de escolaridade, tinha título de engenheiro cinematográfico da Universidade de Madri. Engenheiro cinematográfico e ele fazia um plano de trabalho até fazia...ele entendia de montagem. Edição e montagem. Ele programava um trailer num papel e calculava o tempo das tomadas, fotogramas. Ele fez um plano pro filme no balcão da Líder. Encontrou com o Robertinho (o montador Roberto Leme), ele estava com um maço de fotografias pra fazer o trailer de um dos filmes do Zé do Caixão. Ele estava enrolado: “E agora? Filmar como? Ir pro tabletop?”, tinha que ir com o mínimo possível e filmar com as fotografias no tempo certo que seria a ordem deixando pronto o trailer. O Llorente virou: “Dá aqui. Pera aí. Dá o papel aqui”, sempre com o óculos caindo. Uma hora e pouco depois ele estava com uma planilha: “Robertinho: segue essa planilha e manda brasa”. (...) Llorente? Entendia muito de montagem, entendia na prática e na teoria. Ele era professor, inclusive dava aula na Escola Superior de Cinema onde eu conheci o padre Lopes, espanhol jesuíta. O Llorente dava aula lá. Politicamente, tinha uma visão interessante, uma amplitude das coisas naquela época. Aquela bronca dos espanhóis com a Igreja e tinha um problema que eu cheguei a comentar com ele.

Gaúcho 70: A Boca

$
0
0



Roveda é das pessoas que não gosta que denominem a região da rua do Triunfo como Boca do Lixo. Ele prefere nomear o local como Boca do cinema paulista. Ele conviveu diariamente do ambiente no final da década de 1960 até o início dos anos 1990. Aqui ele dá um depoimento sobre uma das personalidades mais interessantes do ambiente: o roteirista Rajá de Aragão.

O Rajá fez muitos roteiros pro Tony, era o braço-direito dele na parte de roteiro. Ajudava muito no acabamento, letreiro de apresentação. Era competente no que se propunha a fazer. Ele tinha uma certa noção de cinema, né? Foi ex-presidiário, foi uma babaquice de ser bookmaker aqueles caras de corrida de cavalo que são perseguidos. Ele era ligado a jockey, bookmaker, aquela coisa de corrida de cavalo. Então, existia uma perseguição da polícia, eu sei que de vez em quando algum parava em cana. E ele foi um que parou em cana. Mas uma puta experiência, uma vivência no submundo, essa coisa toda. Ele tinha vivência e passava muito. É importante quem escreva um roteiro se propunha a escrever sobre assuntos em que ele entenda e conheça. Que ele tenha uma noção, intimidade com o material. Ele viveu, o cara que vai fazer. Tony Vieira viveu no mundo noturno de São Paulo, na noite. Então, retratar isso a linguagem, comportamento até a gesticulação ele vivia isso. Isso se chama tarimba. Fica ruim o cara estar navegando num mar que não tem intimidade. (...) Acho que um dos problemas do cinema nacional não ter deslanchado até hoje é isso. O camarada muitas vezes prepara um argumento ou roteiro sobre algum assunto que ele desconheça. Aí tudo acaba dando em água de batata. Acho que os profissionais que deram mais certo foram aqueles que procuraram falar do universo que conheciam. Quando conseguiram ter alguma relação direta com o assunto.

Gaúcho 70: Mazzaropi

$
0
0

Roveda comenta sobre seus trabalhos com o ator e produtor Amácio Mazzaropi. Gaúcho é a pessoa viva que mais vezes trabalhou em longas-metragens com Mazza. Foram nove filmes como assistente de câmera. Desde O Grande Xerife (1974) ao derradeiro O Jeca e a Égua Milagrosa (1980). 


O Mazza era o contrário: não tinha nenhuma prática no aspecto técnico. Aliás, nem queria saber: posição de câmera, lentes, movimentação. Ele só queria saber o tamanho da enquadração pra saber o campo de ação dele na câmera. Ele ficava ligado nisso, foi aprendendo porque no início ele nem sabia isso. Inclusive o aspecto interpretativo, estar próximo, longe, o quadro aberto, fechado. Ele não se ocupava com isso, se o eixo estava certo, se dava montagem ou não. Ele não estava nem aí com isso, nem se preocupava sabia que tinha gente competente cuidando disso. O Mazza se ligava mais com o roteiro, o esqueleto da história, começo, meio e fim. Nisso, ele ia lapidando sequencia por sequencia. Nas novelas, tem esse tipo de coisa, esse tipo de comportamento típico de ator. Se um ator, um núcleo de cena está se desenvolvendo melhor ele direciona mais ações para aquele ator, aquela atriz.  Então, o Mazza cuidava muito do lado artístico, né? Tem um fenômeno que ocorre, no comportamento, o relacionamento do Mazza: a procedência dele  é do mundo artístico. Então, ele tinha um diálogo, um relacionamento com os atores. Equipe, elenco, gente da produção ele não tinha um carinho especial. Ele prestava mais atenção no elenco. Isso era tão normal que com o tempo eu acabei me acostumando com isso. Pode ser isso que fez a gente ter trabalhado tantas vezes juntos. Ele foi um cara único.

Lançamento de Vanessa Alves- Coletânea de Imagens e Palavras

ANÚNCIO DE JORNAL

$
0
0

ANÚNCIO DE JORNAL

A velha história da secretária moça-de-família corrompida pelo patrão mau-caráter volta às telas, desta vez com uma roupagem um pouco diferente. Existe até uma mensagem política, com um ex-militante desiludido (Francisco di Franco) que procura se arrumar na vida e transa umas e outras no meio do caminho.

Texto: J. Santana

Pela segunda vez o diretor Luizinho Gonzaga se propõe a filmar uma história que coloca em xeque as extravagancias de comportamento patrocinadas pelo dinheiro e pelo poder. O resultado da primeira experiência (uma história incrível escrita por Marcos Rey – chamada “Mustang Cor-de-Sangue” – que acabou virando um filme insosso, sem pé nem cabeça, chamado “Patty, Mulher Proibida”), foi um filme perdido entre a ideia do autor e a verba do produtor. A história deste “Anúncio de Jornal” também é muito boa. Tomara que a produção não tenha cometido o mesmo pecado da primeira.

Garotinha suburbana, muito linda, carinha de anjo, recorta anúncios de jornal à procura de emprego para ajudar a compor o orçamento doméstico. Vestida, maquiada e bem penteada, sai na segunda-feira para enfrentar os desafios e os testes de seleção, com muitos recortes na bolsa e a cabeça cheia de sonhos. A sorte está do seu lado: é aprovada num dos primeiros endereços. Após a euforia, a rotina. É quando ocorre o inevitável estreitamento de relações com seu chefe. E aquele suspeito executivo, cuja elegância e fino trato são o verniz que encobre a esperteza e a paciência de um velho e implacável conquistador, arma cuidadosamente mais uma de suas infalíveis jogadas. Todas iniciadas com um anúncio de jornal.

Claro que a sequência da história é conhecida de todos, e o final pode ser previsto com certa facilidade por quem já se emocionou ouvindo essa mesma história na música interpretada por Julia Graciela, que está nos primeiros lugares das paradas. A forma como ela foi conduzida cinematograficamente pelo diretor é o que a gente vai conferir quando o lançamento chegar às telas. A sequência de fotos, exclusiva de HOMEM, promete piques de muita sacanagem.

ELENCO
JÚLIA GRACIELA- FRANCISCO DI FRANCO- ELIANA DO VALE – PAULO LEITE- NOELLE PINE- OSVALDO PARRUDA- ILZI COTRIM- TATIANA DANTAS- NILZA INEZ- CARLOS CASAM- ZÉLIA SILVA (prêmio “Mutirão”/82- melhor atriz) – CONJUNTO “MINAS DAS MINAS”e mais uma porção de gente famosa.

FICHA TÉCNICA
Arg. Rot. e Dir. L. GONZAGA

Diretor de fotografia ANTONIO CIAMBRA

Produtor ADEMIR FRANCISCO


Publicado originalmente na revista Homem número 66

O Coringa do Cinema e Dossiê Boca no XXII Festival de Cinema de Vitória

$
0
0
A extensa programação do 22º Festival de Cinema de Vitória também tem espaço para uma tarde de lançamentos de livros. Os lançamentos acontecerão em paralelo à coletiva de imprensa do homenageado Matheus Nachtergaele, na segunda-feira (14), às 15 horas, no Hotel Senac Ilha do Boi. A entrada é gratuita.
Há ainda livros que trazem histórias de grandes personagens da cinematografia nacional, como O Coringa do Cinema, de Matheus Trunk, que conta a trajetória de Virgílio Roveda, um dos técnicos mais atuantes do cinema paulista; e Dossiê Boca, que narra a história de personagens marginais que conseguiram tornar-se cineastas no contexto da Boca Paulista, nos anos 70 e 80.

Agradecimento ao Festival de Vitória

$
0
0
Foi um privilégio ter participado do 22º Festival de Cinema de Vitória levando os livros O Coringa do Cinema e Dossiê Boca. Agradeço profundamente a organização e aos amigos do Espírito Santo. Espero continuar esse trabalho divulgando a trajetória de homens que trabalharam na rua do Triunfo. Pretendo ir a mais lugares e estados com os livros. Não tenho preconceito: do Rio Grande do Sul ao Amazonas, do Oiapoque ao Chuí é sempre uma alegria falar do cinema da Boca. Nesse vídeo do festival apareço com os livros entre os 2 minutos e 54 segundos e os 3 minutos e dez segundos.

Zootropo com Virgílio Roveda e Matheus Trunk


A atriz da Boca Vanessa Alves lança biografia e relembra trabalhos no cinema

$
0
0
A atriz Vanessa Alves colecionou diversas histórias dentro de sua carreira. Foi musa do cinema da Boca do Lixo, recebeu prêmio no festival de Gramado e participou de mais de 35 longas-metragens nacionais. "O problema é que muitos desses filmes mudavam de nome. Eu recebi o roteiro de Fuga na Selva que acabou sendo lançado como Curral de Mulheres", lembra, rindo.

Um dos destaques da carreira de Vanessa é sua parceria com o cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012). Eles fizeram cinco filmes juntos. "Inicialmente, ela veio como exigência do produtor Antonio Polo Galante", afirma Eduardo Aguilar, que foi assistente de Reichenbach durante anos. "Mas depois ela acabou ganhando o Carlão. No set de filmagem, a Vanessa era extremamente profissional: calma, tranquila e dedicada".

Parte das histórias da atriz e do realizador está no livro Vanessa Alves - coletânea de imagens e palavras que será lançado hoje (dia 14) pela Editora Laços. A obra foi organizada pelo produtor cultural Rafael Spaca e conta parte expressiva do cinema paulista nas últimas décadas. VICE conversou com a musa sobre sua carreira.

VICE: Como você começou no cinema?

Vanessa Alves: Recebi um convite de uma agência de atores e modelos para um teste. Era para um produtor que estava começando um filme, e precisavam de uma moça nova. Fiquei na dúvida se ia ou não ia porque o escritório era na Rua do Triunfo [centro de São Paulo], que tinha má fama. Acabei indo, e foi lá que eu conheci o [Antônio Polo] Galante [produtor de cinema]. Ele me pediu para voltar outro dia pra fazer um teste e levar um biquíni. O teste era botar o biquíni e desfilar. Eu desfilei, e ele me disse que eu estava aprovada pra fazer A Filha de Emmanuelle. Eu ia fazer um papel secundário.
Alguns dias depois, o Galante me ligou dizendo que a atriz principal tinha sofrido um acidente ou ficado doente. E perguntou se eu topava fazer o papel principal. Acabei topando.

Do que você se lembra nesse primeiro trabalho?

O Galante era muito inteligente pra títulos. Já tinha a série internacional da Emmanuelle com a Sylvia Kristel. Então, ele fez [o filme] com esse título pra chamar atenção do público. Acabou dando certo, porque foi uma superbilheteria.
Esse filme teve direção do Osvaldo de Oliveira [cineasta e diretor de fotografia conhecido pelo apelido de Carcaça]. Todo mundo falava: "Cuidado com ele. Ele é muito bravo". Já fui morrendo de medo, tanto que, um dia antes de começar[em] as filmagens, me recomendaram tomar um remédio pra ficar relaxada. Aí a idiota aqui foi, comprou e tomou. No dia seguinte, acordei mal e fiquei com uma sensação estranha. Parecia que eu estava pisando nas nuvens. Porque eu nunca tinha tomado remédio pra nada – e até hoje não sou de ficar tomando remédio. Mas foi tudo ótimo, e não tenho nada para falar mal do Carcaça. Não sei se foi sorte ou dedicação, mas me dei muito bem com ele.

Como você conheceu pessoalmente o Carlos Reichenbach?


Não lembro. Acho que foi alguém da parte da produção que nos apresentou: "Esse é o Carlão, diretor do filme e autor do roteiro. Vocês começam a filmar dia tal". Pode ter sido o Galante. Mas eu nem sabia quem era o Carlão. Pra mim, ele era outro diretor da Boca. Nem imaginava que íamos trabalhar juntos tantas vezes. O nosso primeiro trabalho foi Paraíso Proibido, que foi meu segundo longa-metragem.

Como era ele no set? 


Ele era um amor de pessoa. Nunca vi o Carlão elevando a voz, sempre ele ficava torcendo pelo bom desempenho de todos. Vibrava com os atores, e o jeito dele fazia todo mundo trabalhar melhor. Inclusive a equipe técnica. Na época da Boca, não tinha muito ensaio. Você recebia o roteiro, decorava e fazia. Mas o Carlão era um doce no set.


Filme Demência é tido como a obra mais radical do Carlão. Você consegue se lembrar de algo que seja diferente nesse trabalho?
Não. Meu papel era bem pequeno. Fizemos algumas cenas na estrada: [era] uma externa, eu pedindo carona. Era uma participação pequena, tanto que todas as minhas cenas foram rodadas no mesmo dia. Mas era muito engraçado eu contracenar com o Ênio [Gonçalves, ator]. Porque eu era muito tímida e ele também.
Lembro[-me] da gente indo para o set de filmagem numa Kombi. Ele ficava num canto lendo um livro e eu no outro canto do automóvel. Podíamos ficar horas sem trocar uma única palavra. O Carlão dizia que eu era a versão feminina do Ênio e que éramos os atores preferidos dele. Vai ver isso acontecia porque nós dois somos virginianos. Mas o Ênio era excelente ator e uma pessoa maravilhosa.


Você trabalhou diversas vezes com o Reichenbach. Parece que existia um respeito muito grande entre vocês, certo?              

Sim. Aliás, não só com o Carlão como [também com] todos os diretores com quem trabalhei. E o Reichenbach respeitava todo mundo, cuidava de todas as atrizes. Muitas vezes, elenco e equipe técnica acabavam virando uma família. Isso porque todo mundo ficava hospedado na mesma locação. Aí quando acabava o filme era uma choradeira danada. Você chorava e abraçava todo mundo porque você não ia encontrar mais aquele pessoal. Isso acontecia muito.

Você ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado por Anjos do Arrabalde. Como foi isso?


Eu estava voltando do Paraguai, onde tinha participado de um filme chamadoCorruptores. Lembro que cheguei em São Paulo e, no dia seguinte, fui para Gramado. Quando anunciaram, foi uma surpresa muito grande – eu não esperava. Estava concorrendo contra grandes atrizes como a Marília Pêra. Sei que eu estava usando óculos de grau durante a premiação. Na hora, eu abracei tanta gente que os óculos entortaram. Mas eu não acreditava, foi muito emocionante. Lembro que foi um ano que não tinha prêmio em dinheiro. Ganhei só o troféu, mas pra mim aquilo foi ótimo. Depois, com o Anjos, também ganhei o prêmio Governador do Estado (concedido pelo jornal O Estado de São Paulo).
A minha personagem fala pouco no filme. Não tem grandes diálogos, não tem grandes coisas. Por isso, acho que o mérito do prêmio é todo do Carlão. Ele que escreveu o roteiro e fez a minha personagem aparecer dessa maneira.
Você teve um papel pequeno num filme do Walter Hugo Khouri (Amor Estranho Amor). Como foi isso?


Foi quase uma figuração de luxo. Eu fazia uma garota que trabalhava no prostíbulo. Nem sei se ele tirou uma cena que rodaram minha sapateando. Foi no estúdio da Álamo que dublei essa cena do sapateado e me esforcei muito para ela sair perfeita.
Agora, esse filme tinha a Vera Fischer como protagonista. A gente começava a rodar sete horas da manhã. E ela estava toda produzida: uma mulher linda, com aquela pele maravilhosa. A Xuxa era muito bonita também, lembro[-me] do Pelé aparecer com ela no set. Esse filme tinha muitos bons atores: Tarcísio [Meira], Mauro [Mendonça]. Todos muito educados, e o Khouri era um verdadeiro gentleman. Não importava se era eu, a figurante mais figurante ou a Vera. Ele tratava todo mundo igual. Sempre com uma delicadeza que fazia você se sentir a mais bela de todas, a melhor atriz de todas. O Khouri era muito educado e um superdiretor.

O que você viu de diferente em trabalhar com o Khouri?

A produção. Tudo era muito bem cuidado. No set, não tinha só café e água como na maioria dos filmes da Boca. Tinha frutas, biscoitinhos, queijinhos. Do comportamento do Khouri, o que mais marcou foi a gentileza e a educação dele com todos. Até porque as filmagens com a minha personagem duraram uma semana somente.

Você chegou a trabalhar com o Fauzi Mansur também?

Sim. Foi o único filme de terror que eu fiz na minha carreira: Ritual da Morte. Produção toda rodada no Teatro São Pedro, um teatro que estava um pouco abandonado. Eram várias cenas com aquele sangue artificial... sei que minha participação foi pequena. O engraçado foi que esse filme era todo falado em inglês. Até hoje, eu não falo inglês, mas tinha um professor que ajudava a decorar a fala. Então, a gente decorava e ficava um inglês bem tosco, né? Eu devo ter sido dublada em inglês por outra pessoa.
O que a Boca significou na sua trajetória?


Significou o início de tudo. Eu tenho certeza [de] que cheguei aonde cheguei por causa da Boca. Eu mesma sabia que existia a Rua do Triunfo e se fazia cinema lá. Mas abriram essa oportunidade de trabalho, e eu acho que devo tudo à Boca. Depois da Boca que eu fui fazer teatro e alguma coisa na televisão. Novela, a única que eu fiz foiAntônio Alves, o Taxista, no SBT; fiz muito programa de humor, teleteatro na TV Cultura. Mas fiquei mais conhecida pelo cinema mesmo.

Sua carreira no teatro e na TV não foi tão marcante. Você acha que isso aconteceu por você ter trabalhado na Boca?


Eu acho que não. Acho que eu mesma não corri atrás. Teatro, se eu quisesse, estaria fazendo até hoje. Minha última peça foi Sete Vidas, do Paulo Goulart, em 1997. Mas depois entrei de cabeça na área de dublagem. Comecei dublando e hoje sou diretora da área. Enquanto eu só dublava, dava pra conciliar com teatro. Mas depois, não. Eu nunca fui atrás, e também não vieram muito atrás de mim. Então, foi uma coisa que, se eu tivesse procurado e batalhado, poderia ter sido diferente. Mas eu nunca fui atrás.
Foi pela sua timidez, talvez?


Não. Sempre achei o meio de televisão meio desgastante, muito diferente de teatro ou filme. Eu já fui tirada de uma novela por causa de um produtor. Isso quando meu nome tinha aparecido no jornal e estava confirmado que eu iria fazer esse trabalho.


Então, o meio de televisão era mais predatório que o da Boca?


Muito mais. Pelo menos, pra mim, foi.

Entrevista de David Cardoso a Ele Ela em novembro de 2007

$
0
0

DAVID CARDOSO FOI O MAIOR NOME DO CINEMA ADULTO BRASILEIRO. NESTA EXCLUSIVA A LAURO MESQUISTA E ANDRÉ MALERONKA ELE DIZ POR QUE SUAS PORNOCHANCHADAS MEXIAM COM A CABEÇA DO POVÃO – E POR QUE O CINEMA PORNÔ ATUAL NÃO MEXE COM A DELE

O mato-grossense David Cardoso encarna como poucos a estrofe de abertura de Mulheres de Martinho da Vila: Já tive mulheres/ De todas as cores/ De todas idades/ De muitos amores. Durante seus 34 de cinema o ator, diretor e produtor celebrizou-se como o maior astro das pornochanchadas e conheceu – no sentido bíblico – algumas das maiores musas do Brasil, como Matilde Mastrangi e Nicole Puzzi. “Nunca na minha vida eu falei pra uma mulher; ‘Transa comigo que o papel é seu’. Comi a maioria mas nunca desse jeito. Elas queriam dar e eu queria comer”, diz.

Apesar de ter estrelado nos populares filmes de Mazzaropi, ter estrelado o clássico Noite Vazia de Walter Hugo Khouri, e em novelas da Globo e da Bandeirantes, David ficou conhecido como o astro das pornochanchadas. Segundo ele, que já participou de mais de 60 filmes nas mais diversas funções (“eu só não fui maquiador”, diz), os seus filmes faziam sucesso por que mexiam com a cabeça do povão. Em entrevista exclusiva a ELEELA, David fala sobre sua trajetória, o estado atual do cinema brasileiro (explícito ou não), polemiza com os atuais padrões de beleza e de quebra ainda narra suas aventuras.

Por que você ficou tão marcado com o cinema da Boca do Lixo?
Eu apareci mais porque era produtor, diretor e ator. Além disso, eu saía do filme e ia trabalhar como jurado no programa do Sílvio Santos, do Raul Gil. O Galante e o Massaini foram muito importantes, mas só trabalhavam na produção. Eu havia feito Cara a Cara com a Fernanda Montenegro na TV Bandeirantes e O Homem Proibido na Globo. O Mazzaropi dizia pra eu não fazer televisão não: “Cardoso, não faz televisão não rapaz. O povo enjoa da sua carta. Quem é que vai pagar ingresso para te assistir depois?”.

Como você foi trabalhar com cinema?
Quando eu era estudante de Direito, em São Paulo, eu contei queria trabalhar em cinema pra um cara no meu trabalho. Ele conhecia o Mazzaropi e fez um bilhete me apresentando a ele. Eu não dormi nessa noite, era louco por cinema. Cheguei lá no largo do Paissandu, fui entrevistado, contratado e aprendi a ser continuísta em O Lamparina, produção de Mazzaropi e direção de Glauco Laurelli. Depois de 45 dias de filmagem, larguei a faculdade. Meu segundo filme foi Noite Vazia, do Walter Hugo Khouri, como continuísta e ator, contracenando com Odete Lara e Norma Benguell. São dois diretores completamente diferentes, aprendi muito com os dois e com muitos outros. Só não fui maquiador, o resto eu fiz de tudo em cinema.

Quando você começou a trabalhar como diretor?
Demorou um pouco. Eu tinha receio. O primeiro filme que produzi foi em 1974, chamava-se Caçada Sangrenta e eu chamei o Ozualdo Candeias para dirigir. O Candeias era um diretor genial. Eu havia trabalhado com ele em A Herança, um Hamlet brasileiro. Ele fazia um cinema diferente, hermético.

E por que você nunca atuou em filmes do Mazzaropi? Você só trabalhou como técnico, para ele, não foi?
Um dia eu cheguei pra ele e disse: “Mazza, por que você não me chama pra ser galã num filme seu?”. Daí ele responde: “Cardoso, você só não é galã porque não quer. É só ir á noite na minha cama, não tem erro”. Não tinha condições. O homem era mais feio que duplicata vencida. Era um gênio, nunca vai haver outro cara como ele no Brasil mais. Eu hoje coloco ao lado do Charles Chaplin, do Jerry Lewis e do Cantinflas. Mas vá ser feio...

Como você saiu do Mazzaropi para as pornochanchadas?
Eu via as comédias picantes italianas, mas não tenho muita noção de como foi essa minha transformação. Eu vi que todo mundo era punheteiro, queria ver mulher pelada e bonita. Então comecei a procurar. Aí foi Helena Ramos, Matilde Mastrangi, Zilda Mayo, Nicoli Saline que virou Nicole Puzzi, Vera Fischer. Eu lancei todas elas.

E os filmes com elas eram sucessos tremendos...
Modéstia a parte, eu conseguia deixar o público louco de tesão dentro do cinema. Vou descrever uma cena pra você. Não tinha sexo explícito. Eu encontro com a Matilde Mastrangi numa festa de milionários. Saiu num puta carrão e ouço ela falar: “Meu carro tá quebrado”. E eu: “Também não, mas não faz mal eu te dar uma carona, eu moro no Morumbi”. Cinco e meia da manhã, a gente no Morumbi vendo São Paulo do mirante, ela num puta traje a rigor e eu de smoking, e eu apareço com o primeiro agrado, um beijo e corta pra dentro do apartamento. Eu falo: “Espera um pouquinho que eu vou trazer um presente pra você, eu não te conheço, mas gostaria que você viesse aqui”, e dou a caixa pra ela. Corta já pro quarto, ela tomando banho nuazinha, de costas, aparecia o seio, ela abre a caixa, dá um close na cara sacana dela, ai abrindo a câmera e mostra um hábito, de freira. Porque minha tara era comer uma freira. Aí ponho a cabeça embaixo do hábito e ninguém vê, mas sabe que eu tô chupando a perereca dela. E você só vê a expressão dela. Aí, eu me debruço em cima da mesa, tinha um uísque de boca larga, o líquido fica balançando. Eu por trás, transando com ela, só encostado, mas parecia que eu estava fazendo sexo anal. A cabeça dela vai indo pra frente, ela destampa a garrafa e põe na boca e o líquido vem vindo, parece é minha porra, e ela diz que tá gozando. O camarada fica louco, tocando bronha no cinema.

Se você voltasse a filmar, o que faria?
Rodaria uma história no Pantanal. Eu faria um capataz chucro da fazenda. O filme contraria a história de quatro francesas – três mulheres e um travesti – que vêm para o Brasil negociar uma fazenda, e eu transo as três e o travesti. Isso tudo com uma história cheia de cenas bonitas. Mas eu desanimo quando vejo filmes sendo vendidos a R$ 2,00, antes de chegar ao cinema, como aconteceu com esse Tropa de Elite. Devia haver um mecanismo para coibir esse tipo de coisa. Tem ainda uma meia dúzia de pessoas beneficiadas com essas leis de incentivo, cheia de brechas para caixa dois de empresário e produtor mal-intencionado. Por isso eu acabo acompanhando pouco a produção atual.

Uma de suas últimas produções é sobre Aids...
Eu fui o primeiro produtor, diretor e ator a fazer um filme sobre isso. Foi quando o Rock Hudson morreu. Perdi US$ 200 mil, foi um tombo, ninguém ia ao cinema para assistir. Foi bem nessa época que a gente perdeu pro sexo real. Sexo explícito eu nunca fiz. Eu sempre coloquei isso: pornográfico, eu? Pornográfica é a TV brasileira, que eu abomino. Eles (da TV) não gostam de mim porque falo demais.

E você acompanha a produção pornô brasileira?
Há anos não assisto nada disso. Eu já entrei como produtor em três filmes de sexo explícito. Não vi o filme do Frota, nem da Rita Cadillac. Eu não tenho motivação nenhuma pra isso. Há 18 anos eu poderia ter continuado, mas meus interesses eram outros. O que eu acho errado são as pessoas que renegam o que fizeram, como a Xuxa.

Você viveu a época da liberação sexual. Como você vê a situação do sexo nos dias de hoje?
Eu acho que banalizou demais. Há 25 anos atrás, só tinha filme com peito e bunda de mulher, não podia aparecer a parte da frente. Hoje, pornô é aquela coisa: dois caras comendo a mesma mulher, uma outra chupando, já começa com um bacanal. Não leva o sujeito a fantasiar, a criar uma imagem na cabeça dele. Tanto é que todo mundo pega o vídeo e fica correndo as cenas. Ninguém assiste nada do filme, é só o visual mesmo e pronto. Na época da pornochanchada, a Matilde Mastrangi fez um desfile no Gallery (a boate), e leiloou a calcinha dela. Foi um escândalo na época. Hoje qualquer uma faz. O pessoal posa pelado de perna aberta, socialites e atrizes globais, aí quando vão entrevistar elas falam: ‘Não, isso aí foi o Duran que fez, é um ensaio fotográfico’. Mas que ensaio? Perereca é perereca, cara, pau duro é pau duro! Punheteiro vai querer saber quem é Duran? ‘Não, mas eu fotografei na África’. Não importa, aí em Moema mesmo faz, em Guarulhos, o punheteiro não quer saber disso! Você pega dez camaradas e fala: “Você quer comer quem? A miss Brasil, essa que ganhou segundo lugar no Miss Universo ou a Giselle Budchen”. Nove entre dez vão querer a miss. Quem é que quer comer osso? Isso é onda que vocês (imprensa) fazem. A modelo é mais magra que não sei o que. Não sei como o Leonardo Di Caprio comeu um trem daquele.

E as suas mudanças com a idade?
Eu nunca fumei, nunca usei drogas. Eu bebo todo dia, duas, três doses de uísque, umas cervejas. Mas cinco da manhã já tô de pé, tomo meu chimarrão com ervas, e faço uma hora de esporte. Antigamente eu dava três, hoje dou uma. Fazia supino com 100 (quilos), hoje faço com 80. Mas hoje é outra coisa. Eu vejo meu filho. Ele nem tem pra que sair. Pra que? Ele pega o telefone e liga, elas vem e ainda trazem uma pizza. É só você ter grana, ser boa pinta.


Publicado originalmente na edição 431 da revista Ele Ela em novembro de 2007

David Cardoso recomenda o livro DOSSIÊ BOCA

$
0
0

PARA FAZER COMO DAVID CARDOSO E ADQUIRIR OS LIVROS O Coringa do Cinema e Dossiê Boca fale diretamente comigo pelo email mtrunk@bol.com.br

Perfil de David Cardoso na revista Homem em 1979

$
0
0
DAVID CARDOSO: O Herói que fez uma bichona pedir arrego no meio do mato. (E ela toda pintada, pesava quase cem quilos!)


Ele já fez quase meia centena de filmes, numa variedade enorme que vai desde o água-com-açúcar “A Moreninha” com Sônia Braga, até o polêmico “A Herança” de Ozualdo Candeias, onde não falou uma palavra sequer, embora fosse o ator principal. Mas, foi mesmo contracenando com as gostosíssimas Sandra Bréa, Vera Fischer, Helena Ramos e outras menos votadas, que ele ficou famoso. Por tudo isso e mais pelo fato de ter visto as mulheres mais bonitas do Brasil nuazinhas em pelo é que ele foi escolhido para esta edição de aniversário. Detalhe: esta reportagem foi feita por uma mulher. (Não nos comprometa, pois).

Escreve e fotografa: Lúcia Reggiani

Confirmada a entrevista. Apesar da ansiedade, afinal não é todo dia que se enfrenta um astro do cinema nacional, me armei de todo o senso jornalístico necessário e resolvi encarar a rebordosa. Era uma terça-feira gorda de agosto. Cheguei na Bandeirantes com uma bolsa pesada, cheia de fitas, gravador, câmera fotográfica, filmes, canetas, papel e calmante. E fui logo dando de cara com o David Cardoso, iluminado ao sol do meio-dia, num papo animado com Luiz Gustavo e Miriam Mehler. Cumprimentos, sorrisos gentis e muita agitação. Ele pediu que o esperasse uns instantes no camarim para que pudéssemos conversar mais calmamente. Não preciso dizer que chamei tudo quanto foi santo: eu tinha simplesmente emudecido diante do belo exemplar do sexo masculino que ia ter à minha frente. Para falar bem a verdade, não foi só porque ele é bonito que eu perdi o rebolado. Acontece que eu passei uma semana inteira vendo a novela “Cara a Cara”, onde ele faz o papel de caipirão inocente, o Tonho. E a diferença entre o personagem tímido e acanhado, e o ator de ares enérgicos e incisivos, foi chocante. No bom sentido, claro. Ele é desses homens que têm um certo brilho no olhar, inquietante, difícil de explicar.

Ele foi parar no xadrez por causa de um filme!

Logo que David chegou ao camarim, começamos a falar de seu último filme “O Desejo Selvagem” (Massacre no Pantanal) onde ele contracenava com a não menos famosa Ira de Furstemberg. “É um filme de tema ecológico, preocupado com a preservação da fauna” – diz ele. Mas, apesar de boa intenção, o filme já rendeu uma prisão para o nosso herói.

Uma cana insólita: ele comprou uma onça, a safada comeu o cachorro de estimação não sei de quem, o não-sei-quem ficou bravo e matou a onça. Conclusão: David foi parar no xadrez por denúncia do Serviço de Proteção aos Animais. E como ele não é nada bobo, já está capitalizando esse tremendo bafafá como reforço publicitário para o filme. Mas essa volta por cima empresarial é só uma consequência porque, na realidade, ele ficou muito puto com a história. Comprou outra onça novinha em folha (aliás, uma tremenda bichona toda pintada), soltou a danada no meio do mato e, só de marra, enfrentou os quase 100 quilos da infeliz, sem truques nem dublês. Fiquei emocionada. Enquanto ele falava da luta com a onça, fiquei observando seus gestos e se a musculatura comportava realmente tanta valentia. Ele estava com uma camisa bem justinha, com alguns botões abertos, que deixavam à mostra uma parte do peito bronzeado. Ombros largos, um tórax muito bem proporcionado, tudo parecendo ser firme e rijo. As mangas bem justas nos braços, delineavam um certo muque, mas sem os exageros dos halterofilistas. Bom, nessas alturas, eu já estava me imaginando fortemente enlaçada pela cintura, dançando com David, ao som de um tangaço argentino, daqueles bem vibrantes, com quedinhas, encaixas e rodopios. Estão vendo o que é tentação?



Ele não tempo de transar com todas as mulheres!

Apesar de estar com essa bola toda, David diz que não se envolve em sexo quando representa: “Imagine só se eu, num filme com 19 mulheres, vou ter tempo de transar com todas elas? Não dá. É muita mão-de-obra. Eu, inclusive, não gosto de sair com mulheres que moram longe porque não tenho tempo para ficar cortando a cidade de ponta a ponta. Além disso, detesto mulher muito intelectualizada, pedante. Não tenho saco para ficar discutindo as possibilidades de paz no Oriente Médio ou as consequências da guerra na Nicarágua, depois de um dia cheio de trabalho. Hoje, por exemplo, estou aqui falando com você, em seguida tenho uma gravação no estúdio, uma externa do outro lado da cidade, programa Sílvio Santos na sequência, e vai saber mais o quê. As pessoas ficam me criticando quando eu falo que gosto de mulher burra, mas acho que dá para entender o porquê, não acha?” E sorriu pedindo confirmação. Não me lembro o que foi que eu respondi. Só sei que ele tem uns dentes branquinhos, certinhos, muito bem colocados pela mamãe natureza dentro de um sorriso largo, puxadinho de um lado, perfeito.

Ele não mistura sexo com trabalho

Ele não gosta que o chamem de Rei da Pornochanchada. “Se você disser que eu faço filmes comerciais com sexo e violência, isso eu concordo. Mas chamar os meus filmes de pornôs é uma besteira. Principalmente pelo custo operacional dos filmes e da técnica empregada. Se eu quisesse fazer pornochanchada eu alugava um apartamento, colocava um tanto de mulheres e homens nus no meio e filmava uma baboseira apelativa qualquer. Agora, um filme em que se paga dez mil cruzeiros por dia para um ator como o Hélio Souto, por exemplo, não pode ser chamado de pornochanchada”. David Cardoso já fez 45 filmes, tendo contracenado com Sandra Bréa, Sônia Braga, Aldine Müller (veja a entrevista nessa edição) entre outras. E, apesar de todo homem ficar babando só de olhar as fotos dessas atrizes, ele diz que é muito profissional, reafirma que não brinca em serviço. Mesmo assim ele deixou escapar que teve uma que o deixou muito excitado: “Foi a Vera Fischer, numa cena do filme “As Fêmeas”. Acho que foi mais pela situação porque estávamos filmando em um barco, com a câmara em outro. Se a cena levasse meia hora mais, eu não sei não”. Nem eu, pensei, imaginando um barco balouçando sobre as ondas calmas, David Cardoso sem aquele monte de roupas, todo bronzeado, cheio de respingos espalhados pelo corpo, salgadinho de água do mar, raios de sol por testemunha, hum...Que Vera Fischer que nada!

Ele não adianta o carro na frente dos bois!

Alem dos inúmeros filmes, David já participou da novela “O Preço de Uma Vida” na extinta TV Excelsior e está se saindo muito bem na Rede Bandeirantes, na novela “Cara a Cara”. O fato de contracenar ao lado de monstros sagrados da televisão como Débora Duarte, Irene Ravache, Vanda Kosmo e a primeira dama do teatro nacional, Fernanda Montenegro, não chega a perturbá-lo. Ele acha que está tudo muito bom e que o segredo do sucesso é a humildade: “Quem quiser alcançar o sucesso não pode esmorecer nunca, deve ter honestidade profissional e ser o mais humilde possível, olhando sempre para trás e vendo que pessoas bem sucedidas como Roberto Carlos, Sílvio Santos e Pelé começaram do nada, chegaram ao topo e continuam lá. Eu não adianto o carro na frente dos bois. Faço o que posso fazer”. David faz questão de ser um profissional impecável, fazendo tudo muito bem e rápido. Aliás, ele se considera um péssimo amante por ser rápido demais em tudo. Também, um cara que pensa dia e noite no trabalho, que é autor, ator, produtor e diretor ao mesmo tempo, acaba ficando num pique de velocidade difícil de acompanhar. Mas no fundo, no fundo, acho mesmo que é cascata. O ibope que ele dá com o mulherio não é brincadeira, e até hoje não vi ninguém reclamando. Ou será que....Bom, deixa pra lá.

Ele está louco atrás de uma peça!

Como nem só de cinema e TV vive o ator, David Cardoso também faz teatro. Atualmente a sua grande preocupação é conseguir os direitos para encenar a peça “E Também o Seu Gato Morreu” do autor americano James Kirkwood, o mesmo de “Chorus Line”: “Estou tendo dificuldades em conseguir os direitos porque parece que o autor está de caso com um brasileiro que, por sua vez, está de olho na peça. Pelo menos foi o que disseram em Nova York”. Quando já estávamos passando para as amenidades e ele me dizendo que é pai de três filhos (um deles é o garoto do iogurte que gosta de viver perigosamente), mas vive sozinho, essas coisas, entra o Luiz Gustavo no camarim, chamando-o para a gravação. Isso é o que eu chamo de intervenção inoportuna. Bem na hora que o papo estava começando a ficar interessante tinha que aparecer alguém para atrapalhar. Mas é a vida. E lá foi ele, despedindo-se apressado.

Ah! Ia me esquecendo da fofoca. Corre o boato, pelos bastidores da Bandeirantes, que ele estrila quando escrevem seu nome sem o “d” mudo: “Davi assim é a mãe! Só respondo se for “d” no final”.


Publicado originalmente na revista Homem número 13 em setembro de 1979

ÚLTIMOS EXEMPLARES

$
0
0



Se você quer adquirir os livros O Coringa do Cinema e Dossiê Boca compre diretamente comigo pelo email mtrunk@bol.com.br. Estou vendendo cada exemplar por R$ 25,00 sendo essa uma promoção exclusiva para os leitores do VSP. Sem custos de correio. Enviamos pra qualquer lugar do Brasil (do Rio Grande do Sul ao Amapá) com o mesmo valor. Estou com os últimos exemplares.

AS MULHERES DO CAIS

$
0
0
Acompanhe agora uma autêntica estreia do cinema brasileiro. Deste trailer fazem parte Wanda Estefânia (atriz das tele-novelas Te Contei? da Rede Globo e Aritana da Rede Tupi); Selma Egrei (atriz dos filmes A Carne e Filhas do Fogo, entre outros) e a mulata maravilhosa Esmeralda de Barros, a que dispense maiores apresentações. As três, aqui, estão na pele dos personagens que vivem em



AS MULHERES DO CAIS

Escreve J. Santana
Fotos ACG

Terezinha, Lídia e Gina são três mulheres de histórias iguais: um dia, foram amadas e abandonadas. Mas elas são mulheres fortes. E ao invés de ficarem lamentando a sorte, chorando num canto da vida, aproveitaram a chance e foram para o cais mostrar seus corpos aos apetites dos homens. Elas animam a alma dos viajantes cansados e dos malandros insinuantes que vivem no escuro dos becos do porto, revelando seus segredos em lânguidos e sensuais “strip-teases” num cabaré mal iluminado. Elas gostam dos homens chorando a maresia e já foram de todos os marinheiros. É verdade que elas sonham com dias melhores que custam chegar. Enquanto isso, elas ganham a vida amando os homens que pagam por isso. Terezinha, Lídia e Gina, três destinos afogados numa pensão da vida. Ao redor delas, gravita um enxame de outras vidas: gigolôs, homossexuais, proxenetas, policiais, vagabundos, a dona da pensão e poetas sonhadores e eternamente duros. Até o entregador de gás. Elas são As Mulheres do Cais. Para o que der e vier. Essa história pode não ser verdadeira, mas é real no filme que José Miziara dirigiu, uma co-produção Empresa Cinematográfica Haway e Gare Filmes, e que breve estará em nossos cinemas. Wanda Estefânia é Terezinha, Esmeralda Barros é Lídia e Selma Egrei é Gina. Nas próximas páginas, as três mostram, em primeira mão para os leitores de HOMEM os seus personagens de As Mulheres do Cais.

Publicado originalmente na revista Homem número 6 ano 1 em fevereiro de 1979

AS PRISIONEIRAS DA ILHA DO DIABO

$
0
0

Texto: J. Santana
Fotos: Astron Filmes

O tema “bandidos fugitivos levando reféns” já foi explorado quase á exaustão pelo cinema mundial. Mas nem por isso se deixam de fazer filmes sobre ele. Como é o caso presente, uma história concebida e desenvolvida por Agenor Alves, um diretor que começa a firmar carreira na cinematografia paulista, apesar dos recursos limitados que possuí.

E a história que ele concebeu desta vez tem início ao término de um desfilo de modas, onde milionários resolvem recompensar a graça e a desenvoltura dos manequins oferecendo-lhes um jantar, regado a bons vinhos, no iate de propriedade de um deles. Após o jantar e todas as sobremesas, na hora alegre da volta de um passeio que fizeram pelas águas calmas da baia, são todos rendidos por um grupo de quatro marginais que, evadidos de uma penitenciária e perseguidos pela polícia, tomam conta do iate e prosseguem na fuga, agora levando todos como reféns. Depois de algum tempo no mar, o grupo chega novamente à terra num porto distante e semideserto da ilha. Lá eliminam os homens e, violentos como sempre foram, iniciam entre si acirrada disputa pela disputa pela posse das mulheres. Ao final das brigas, restam vivos apenas um bandido e uma das moças por quem ele se apaixonara nesse curto espaço de tempo e a quem defendera com toda a fúria de sua paixão.

Mas a polícia, que não havia interrompido as buscas aos presidiários fugitivos, vai alcança-los na praia, sozinhos, vivendo intensamente seu romance. Trocam tiros e, como em toda história maniqueísta que se preze, o bandido leva a pior e tomba morto para desespero da mocinha agora desamparada e marcada pelo resto da vida por uma experiência violenta e traumatizante.



ELENCO

AGENOR ALVES – JOÃO PAULO – SATÃ – MARLIANE GOMES – TÂNIA GOMIDE – REGINA MELLO – ELY SILVA – MARTHUS MATHIAS

FICHA TÉCNICA
Argumento, roteiro e direção           AGENOR ALVES
Montagem                                        VALMIR
Produtora                                        ASTRON FILMES


Publicado originalmente na revista Privé número 18 ano II em novembro de 1980

Exposição Zé do Caixão no MIS São Paulo

$
0
0


Dedicada a obra do cineasta José Mojica Marins, a exposição Á Meia Noite Levarei Sua Alma está em cartaz no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo até o dia 10 de janeiro de 2016. O público pode conhecer pela primeira vez fotografias, objetos cênicos, figurinos, roteiros e inúmeros itens dos bastidores de produções do personagem Zé do Caixão. Parte expressiva da exposição veio diretamente do acervo pessoal de Mojica e sua filha Liz.

Alguns itens curiosos do acervo são os cartazes originais dos filmes de Mojica e santinhos de sua candidatura a deputado federal nos anos 1980.  O público também pode ver roupas utilizadas por ele em seu filme mais recente (A Encarnação do Demônio de 2008). Estive na exposição e recomendo muito aos fãs de cinema brasileiro.

O MIS fica localizado na avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo. Os ingressos custam R$ 10. O museu abre das terças aos sábados das 12h ás 20h e domingos e feriados das 11h ás 19h.





Bia Seidl fala sobre Walter Hugo Khoury

$
0
0
20 perguntas para BIA SEIDL





A linda rival de Maitê Proença em Dona Beija fala sobre os bastidores da novela que ameaçou a Globo, seu novo filme, suas paixões e até como ela dorme

A mistura austríaca por parte de pai, Theopilo, com o sangue italiano da mãe, Alice, deu um belo resultado: Maria Beatriz Seidl, carioca da Tijuca, 24 anos, é uma das belas atrizes da televisão. Como a Aninha Felizardo, foi a rival de Maitê Proença no maior fenômeno de audiência da rede Manchete, a novela Dona Beija. Junto com a atriz Vera Fischer, Bia foi a única atriz brasileira a ser convidada para estrelar o comercial do “sabonete das estrelas”. No próximo mês, chega aos cinemas seu primeiro filme, Berenice, dirigido pelo cineasta Walter Hugo Khoury. Um sucesso que Bia atinge após cinco anos de duro aprendizado. Saindo de um casamento com o cantor Ronnie Von, Bia tem ainda muitas aspirações: fazer teatro é apenas a primeira delas, como conta nesta entrevista, com o redator-chefe Carlos Costa, feita durante um tranquilo almoço numa tarde de domingo, no Negresco, em Ipanema.

1.
PLAYBOY: Você foi a única atriz brasileira, ao lado de Vera Fischer, a ser escolhida para o famoso anúncio do Lux, o “sabonete das estrelas”. Como foi?

BIA SEIDL: Parece que fizeram uma pesquisa de rua, e Vera e eu fomos as escolhidas dentro de um padrão de beleza que eles querem associar ao sabonete. Não sei que trabalho teria chegado a fixar meu nome com o público, porque afinal ainda não pintou nenhuma Porcina na minha vida ! (risos) E, além disso, sempre fiz papéis de mulheres malvadas. Só agora, na novela Dona Beija, é que fiz uma mulher mais boazinha.

2.
PLAYBOY: Foi por esse perfil de loura inacessível que o Walter Hugo Khoury te convidou para o filme Berenice?

BIA SEIDL: Não ! (risos) O próprio Khoury me disse que eu não era uma “coisinha”. Agora, fico uma fera quando chegam com o papo de que sou uma Catherine Deneuve, uma vênus gelada. Não sou assexuada! Certo, eu me protejo, não estou sem guarda-chuva, sou cerebral, crítica, mas fria, nunca! Sou uma vênus quente. Meu lado italiano, o Parpinelli de mamãe, uma calabresa, não deixa a paixão esfriar. Sou movida a paixão!

3.
PLAYBOY: E como foi que você descobriu essa sensualidade toda?

BIA SEIDL: Foi uma coisa linda, saudável, bem lenta. Com 11 anos já namorava um rapaz de 13. Eu não era o tipo “sapeca”, era séria, cheia de ideal, rígida. Só agora é que estou me dando o direto de relaxar, de ser leve. Mas com 15 anos eu queria casar, morar com meu namorado. E não estava pronta! Aliás, não estou pronta até hoje. Não quero nunca estar pronta. Estou descobrindo ainda a sexualidade a cada dia, acho que tem muita coisa para acontecer, não tenho pressa.

4.
PLAYBOY: Como foi o despertar da mulher, para você?

BIA SEIDL: Foi meio feito cacho de banana colocado em jornal e amadurecendo a força. Com 15 anos era quase uma mulher, já batalhando. Cresci na Tijuca, Conde de Bonfim e Largo da Segunda-Feira. Com 12 trabalhava em teatro infantil, com 16 era manequim, fotografando moda. Mas o sonho, desde menina, era ser atriz. Então, o Alexandre Lannes, apostou em mim, me levou pra conhecer o Mário Lúcio Vaz, na época diretor da Divisão de Novelas da Globo. Ele me explicou que era difícil, que eu estaria entre leões e tinha que segurar. Fiz ponta em O Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu, e passei na linha de show, fazendo o programa do Agildo Ribeiro. Foi uma barra, eu me assustei.

5.
PLAYBOY: O que você quer dizer com barra? O Agildo? O esquema?

BIA SEIDL: Não! Mas é difícil explicar, eu não via chance de conseguir espaço, achava as pessoas muito distantes, com medo até de falar – de falar delas, da vida, de serem pessoas. Nessa época eu estava sem dinheiro, com um filho para criar, o Daniel, que tive aos 17 anos, precisava trabalhar, foi duro. Fui falar com o Augusto César Vanucci, diretor de shows, e ele me disse, com carinho: “Você não sabe fazer rir e nunca vai ficar mostrando as pernas. Então, vai procurar seu lugar nas novelas”. Eu consegui um papel em Paraíso, escalada pelo Gonzaga Blota. O autor, Benedito Ruy Barbosa, me “pescou” e aí começaram a pintar as coisas.

6.
PLAYBOY: Um projeto de menina que começava a virar realidade...

BIA SEIDL: Muitos me ajudaram. A começar pela direção da novela. O diretor, Ari Coslov, deu muitas dicas. Aprendi muito com o Wolf Maia, quando fiz com ele Louco Amor. Um dia, ele gritou comigo: “Será que você não entende que está trabalhando com raposas? Acorda! Ou cai na real ou será comida!” Eu sempre quis aprender, ia lá, cutucar, fuçar, pedir explicação. Tem muito o lance de observar, porque a câmera ensina, o assistente ensina. Precisa é encarar e batalhar. Aos poucos fui conseguindo.

7.
PLAYBOY: E o sucesso de Dona Beija?

BIA SEIDL: Não foi bom, foi ótimo! Um trabalho muito especial, projeto ousado para a emissora, que a gente conseguiu cumprir com sucesso. É bom saber que participei desse estouro, dessa surpresa da Manchete. E os motivos do sucesso são muitos. Por um lado, como diz o Adolfo Bloch, a história tem todos os ingredientes que o público gosta: padre, rendez-vous e política. Eu acrescentaria: tem amor. Apesar de ser uma novela de época, está muito perto da nossa vida.

8.
PLAYBOY: Mas a razão do sucesso não seria muito erotismo da belíssima Beija Maitê Proença?

BIA SEIDL: Acho que há um certo cansaço do naturalismo na TV, esse lance de encontrar no vídeo os mesmos tipos que se encontram ali na rua. E Dona Beija, além de ser uma novela de época, tinha a história dos equívocos de uma mulher. Mas sucesso é trabalho bem-feito, mas aquele click que dá certo e nem sempre se sabe bem por quê. Agora, tentar explicar o sucesso da novela só pelo erotismo é muito pouco, convenhamos!

9.
PLAYBOY: Dava para sentir esse sucesso enquanto estavam gravando?

BIA SEIDL: Não é uma coisa que se sinta no estúdio, claro. Ali se trabalhava e muito. Mas é certo que houve um clima de satisfação, e isso foi muito bom. Fazer fracasso é chato, ninguém gosta, né? Cria um ambiente de incerteza, de que vai haver mudanças, as pessoas se odeiam, o diretor fica inseguro. Então, foi bom a Manchete ter ousado e acertado com Beija.

10.
PLAYBOY: É diferente trabalhar na Manchete, comparado com a Globo?

BIA SEIDL: É e não é. O trabalho pessoal, que é realmente o importante, esse continua o mesmo, é feito em casa, criando o personagem, decorando textos. A tensão é a mesma, que é o próprio trabalho em televisão. Mas Dona Beija foi um trabalho especial, e o convívio com o diretor Herval Rossano foi revigorante. Eu havia feito com ele A Gama Comeu, foi uma prova de fogo viver a Gláucia, uma tremenda mau-caráter. O Herval quer tudo ao mesmo tempo, emoção e técnica, e ele joga alto, é rápido. É preciso ficar muito ligada para aproveitar tudo, aprender.

11.
PLAYBOY: E como foi o relacionamento com a Maitê, que, afinal, era a estrela da novela?

BIA SEIDL: Ah, a Maitê é uma pessoa muito especial! No final da novela, acabamos nos aproximando muito. No último dia de gravação, na saída do prédio da Manchete, nós nos abraçamos. Ela me disse que se eu precisasse de uma amiga pra desabafar, confiar um segredo, contasse pra ela. Abraçada com ela, eu disse que não era por acaso que ela havia feito o sucesso que fez. Porque há o lance da “construção” em toda atriz. E a Maitê já chegou lá. Ela é lenda, de uma beleza tocante, mas é mais bela ainda como pessoa. Ela é grande! Aí, nós duas choramos. Afinal, são poucos os momentos em que se pode ser apenas emoção, ainda mais eu, que sou virginiana, e quase não me permitia isso. E o momento atual da minha vida está sendo só emoção. É o coração que está batendo, e isso é lindo, encontrar pessoas!

12.
PLAYBOY: Quem são as grandes atrizes, pontos de referência em sua “construção”?

BIA SEIDL: Taí uma difícil questão – porque são muitas. Mas Tereza Rachel, Marília Pêra, Nathalia Timberg são grandes nomes, como Nicette Bruno e Arlete Sales. Se bem que sou suspeita para falar em Arlete, grande figura no meu coração. Já, entre os atores, minha lista não deixaria de fora o Ary Fontoura, um senhor ator. E o Tarcísio Meira, essa pessoa gostosa, carinhosa. Admiro a seriedade profissional desse homem que se joga de corpo e alma, vai fundo no que se faz.

13.
PLAYBOY: O seu encontro com ele no filme Berenice, de Khoury, foi decisivo?

BIA SEIDL: Pra começar, porque Bereniceé meu primeiro filme, espero que o primeiro de muitos. Se pudesse, faria carreira no cinema – mas isso só seria possível se tivesse muito dinheiro guardado (risos). O Khoury foi especial para mim desde nosso primeiro encontro. Eu tinha medo de aceitar o convite, medo do desafio de fazer cinema, e do tema, o incesto. E o Khoury me disse que tinha certeza de que eu faria bem o papel. Achei que era apenas um truque dele para eu aceitar, mas depois senti a qualidade do trabalho dele: nunca fui tão bem tratada profissionalmente. Ele sabe exatamente o que quer, falamos a mesma língua, e eu me senti realmente uma atriz, instrumento nas mãos de um diretor. Ah, e isso é tão bom!

14.
PLAYBOY: Mas a pergunta era sobre o encontro com o Tarcísio Meira.

BIA SEIDL: Eu havia entendido, mas precisava falar tudo isso do Khoury. O Tarcísio, no filme, é meu pai, e é em torno dessa relação pai-filha – que chega ao extremo da entrega – que gira toda a história. E o Tarcísio está numa fase linda da vida dele. Teve a coragem de questionar a imagem do galã, deu um “banho” como o Hermógenes no seriado Grande Sertão, “roubou” as cenas com seu desempenho num papel pequeno; fez o difícil papel de protagonista em Berenice, estava agora em São Paulo com a peça Um Dia Muito Especial, onde fazia um homossexual. Ele tem garra!

15.
PLAYBOY: Como foram as filmagens de Berenice?

BIA SEIDL: Fiquei um mês em Ilhabela com toda a equipe. Cinema é complicado, eu tenho medo de perder o fio, não se tem uma ideia de como ficará o trabalho, é outra técnica. A cena do incesto – que na realidade é o contexto geral de todo o filme, a loucura total – foi a que gravamos por último, quando quase toda a equipe tinha ido embora. Era particularmente difícil, mas o Khoury soube conduzir a cena, foi lindo, num quarto, com muita plasticidade. O Khoury é um dos últimos elegantes, homem de enviar flores, chocolate. E eu sou uma pessoa bem comum, adoro ser paparicada. São essas pequenas surpresas que fazem a gente gostar da vida.

16.
PLAYBOY: E o que mais te desgosta num homem?

BIA SEIDL: A falta de humildade, a vaidade, a prepotência. Deus me livre também dos machões! Não preciso de quantidade, vale muito mais o lance da qualidade, um homem que me sensibilize, fascinante e inteligente, que me mobilize, me deixe de quatro, como se diz. Agora, se tem coisa que não tolero em um homem é falta de educação, das coisas primárias ás mais íntimas, num relacionamento mais pessoal.

17.
PLAYBOY: E a política, é um assunto que te preocupa?

BIA SEIDL: Claro, embora não seja de subir em palanque e fazer campanha. Votei no Brizola – não, não estou arrependida, porque eu acreditava. Mas, quando um homem se perde em pequenas rixas, perde também seu crédito! E, além do mais, eu sou a favor do pacote! (risos) Se tiver que ir a à luta, eu vou porque nunca vi o brasileiro tão engajado, patriota, pela primeira vez mobilizando, em função do Plano Cruzado. E bonito sentir como as pessoas assumiram sua responsabilidade como cidadãos! O país é outro, nos últimos tempos. Agora, claro que eu entendo o papel do Brizola, a ele cabe ser oposição, não é? Mas cá para nós, o Rio não tem dado muita sorte, poxa! (risos).

18.
PLAYBOY: Como é o dia-a-dia de Bia Seidl?

BIA SEIDL: Não tem muita rotina. Há o trabalho de dona de casa, de contas a pagar, supermercado, telefonemas para acertar os compromissos, levar meu filho Daniel, de seis anos, ao Colégio Andrews, encontrar um tempo de ver cinema, ou teatro. Mas não tenho programação fechada de academia, aulas de balé, empostação de voz (risos). E...sou também muito preguiçosa. É um sufoco levantar cedo...E adoro doces: sou uma formiga.

19.
PLAYBOY: E essa formiguinha é feliz?

BIA SEIDL: Ser feliz é ter paz de espírito, estar de acordo com seus deuses, seus astros, seu eu. Se encontrando nas coisas, encontrando coerências em suas incoerências, conviver com seus medos. E isso é trabalho de muito tempo. (Ri, assume uma expressão sonhadora). Você não vai perguntar como eu durmo?
                                            
20.
PLAYBOY: Como você dorme?

BIA SEIDL: (rindo muito) Adorei quando li em PLAYBOY a resposta da Regina Duarte, dizendo que dorme de blusão e meia. Eu não uso Chanel número 5: durmo apenas com uma camisa de malha.


Publicado originalmente na revista Playboy 133 em agosto de 1986  

Memórias da Boca estreia dia 10/12

$
0
0
O longa-metragem Memórias da Boca estreia no dia 10 de dezembro no Caixa Belas Artes (rua da Consolação, 2423). O filme é composto por oito episódios que misturam ficção e documentário evocando o polo cinematográfico de São Paulo entre os anos 1960 e 1980.  Seguem as descrições dos episódios que compõe o filme de 84 minutos:

Amigas para Sempre– comédia de Alfredo Sternheim com Elisabeth Hartmann e Neide Ribeiro. Elas interpretam duas atrizes do cinema da Boca que se encontra em um café. A conversa, inicialmente fraterna em meios às lembranças, descamba para uma intensa discussão.
Passagem de Tempo– documentário de Mário Vaz Filho. O diretor narra o surgimento da Embrapi, produtora independente formada por dez cineastas da Boca para ser uma alternativa às empresas tradicionais. Homenageia aos falecidos Ody Fraga, Jean Garrett, Antonio Moreiras e Cláudio Portioli. 
Bangue-bangue– de Valdir Baptista. Com Walter Wanny e José Índio Lopes. Diálogo nostálgico e brincalhão entre dois técnicos e atores faz evocação da feitura dos westerns no Cinema da Boca. Cenas de filmes e depoimento do crítico Rodrigo Pereira e Mário Vaz Filho.
Entrando pelo Cano– comédia de Tony D´Ciambra, com Amanda Banffy, Eduardo Silva, Gilda Vandenbrande, Zé da Ilha. Um encanador, por engano, vai parar em um prostíbulo da Boca do Lixo onde uma atendente o trata como cliente agendado para condutas bizarras.
Triumpho 134 – Os Cineclubes na Boca do Lixo - de Diogo Gomes dos Santos. Com imagens da época e depoimentos de Alain Fresnot, André Gatti, entre outros, o filme resgata a importância do movimento cineclubista no local e na época da Ditadura Militar.
Experiência Macabra– de Clery Cunha. Com cenas de Joelma, 23º andar, que dirigiu em 1980, o cineasta Cunha lembra um fato cômico envolvendo o ator Carlos Marques durante as filmagens em um depósito funerário.

Autofilmagem– de José Mojica Marins. Um passeio atual com José Mojica Marins pela rua do Triunfo.  Ele discorre sobre a importância e a versatilidade do cinema da Boca, lembra também a solidariedade que existia e que ajudou a viabilizar vários projetos de muitos cineastas.

Mil Cinemas– de Diomédio Piskator. Com Débora Muniz, Mel Lisboa, Carla Gobbi, Beto Magnani, Osvaldo Gonçalves, Juan Carlos Alarcón, Wilson Sampson e outros. Metalinguístico, encena em linguagem fragmentada e com humor, os bastidores de uma filmagem atual na Boca do Lixo.   

Curta com veteranos da rua do Triunfo é premiado em Recife

$
0
0


O curta-metragem Lembranças de Mayo recebeu o prêmio de melhor filme na VII Janela Internacional de Recife que acabou no domingo retrasado (dia 15). A produção mineira de 28 minutos é a estreia do diretor Flávio C. von Sperling, o Flamingo, e teve no elenco dois nomes conhecidos do cinema da Rua do Triunfo: Cláudio Cunha e Nicole Puzzi. "A Boca [do Lixo] foi o ciclo mais diverso, rico, livre e debochado do nosso cinema", opina o realizador.

A história do curta gira em torno do namoro da atriz Zilda (Nicole Puzzi) com um músico mais jovem (Samuel Marotta). O rapaz apresenta a musa ao pai (Cláudio Cunha), fã da atriz no passado. O triângulo amoroso está formado. Flamingo está esbanjando otimismo com seu filme. "Vamos enviar para todos os festivais. Espero que o curta tenha uma carreira interessante e seja visto pelo maior número possível de pessoas."

O jovem realizador só lamenta que Lembranças de Mayo seja o último trabalho de Cláudio Cunha no cinema. O ator morreu em abril deste ano sem ver o curta pronto. "É um misto de uma tristeza terrível de ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa oportunidade de trabalharmos juntos", resume Flamingo. VICE conversou com ele.

Violão, Sardinha e Pão- Qual é a emoção de o filme ter sido premiado na Janela Internacional de Recife?
Flamingo: Impossível ter estreia melhor. Vê-lo na tela do Cine São Luiz com o carinho que o Janela Internacional tem com os filmes já foi um prêmio. Confesso que não imaginava ser premiado. É uma comédia (gênero historicamente tratado como menor), além de a mostra competitiva brasileira ter sido recheada de muitos filmes bons. Agradeço ao júri e, sobretudo, a todo mundo que soltou aquelas risadas que ouvi durante a sessão – que foi linda. O filme tá aí pra isso.

Como surgiu a ideia do curta Lembranças de Mayo?
A ideia surgiu em meados de 2012. O Maurílio Martins, da produtora Filmes de Plástico, surgiu com a primeira ideia [de] que devíamos fazer um filme chamado Lembranças de Mayo. Sempre falávamos isso, sempre papo de boteco. Em 2013, me reuni com meus sócios Leonardo Amaral e Samuel Marotta, e, embalados na cachaça, fizemos uma espécie de escaleta, apontando cenas e situações. A partir disso, desenvolvi o roteiro.

Qual influência o cinema da Boca teve no curta?
O filme foi uma homenagem, uma declaração de amor a esse tipo de cinema, sobretudo às atrizes. A Boca foi o ciclo mais diverso, rico, livre e debochado do nosso cinema, tendo produzido de tudo: filmes de horror, guerra, comédias eróticas, musicais, caipiras – viva Carcaça –, westerns. As chamadas pornochanchadas são os filmes com os quais o Lembranças se relaciona de maneira mais explícita. O filme tem signos, tropos, clichês típicos do gênero: cena de voyeurismo, a figura do 'corno', etc., além de recursos de linguagem caros ao gênero homenageado (e ao cinema italiano popular, outra grandíssima influência para mim e para o filme).

É verdade que inicialmente você queria a atriz Zilda Mayo para o papel principal?
Sim. Cheguei a visitá-la em Araraquara. Zilda foi um doce, e conversamos uma tarde inteira sobre cinema. Nem chegamos a falar especificamente do roteiro, ela leu depois de nos despedirmos. Ela me ligou, agradecendo e [se] mostrando lisonjeada com a homenagem. Mas ela optou por não atuar no filme. Algumas cenas, ela achava delicada. Ela estava num momento pessoal difícil.

Como foi trabalhar com o Cláudio Cunha?
Cláudio é cinema. Ator gigante e cineasta maior ainda. Ator seguro: não ensaiávamos (apenas quando tinha mais gente em cena ou movimento de câmera), apesar de termos filmado em película e com poucas latas. Ele me passava essa segurança. Além de ser a alegria do set. Qualquer segundo de respiro (entre planos, momentos de refeições, etc.), ele chegava com as piadas horríveis que se tornavam geniais quando contadas pelo Cláudio.

E a Nicole?
Nicole tem aquilo que poucas atrizes têm: uma presença natural quase mística. Nos detalhes, no olhar. Ela e a câmera se conhecem. Se amam, aliás. A experiência e o talento extensos da Nicole me ajudaram muito a ter segurança na hora de dirigi-la. Foi, graças a ela, um desafio muito menor do que eu antecipava.

Quais as maiores dificuldades que você teve na produção do curta?
Filmamos em dezesseis milímetros. Tínhamos apenas seis latas de 66 minutos para uma fita de 30 minutos. Vacilou, já era. O filme tem dois planos-sequência e um plano da [cantora] Flávia Falcão cantando uma música inteira para a câmera. Dá aquele medo de errar e faltar. Graças à equipe e ao elenco, conseguimos filmar tudo na conta certa. Foi o primeiro filme que dirigi em película, e esse desafio de faltar filme me ensinou a dar mais atenção aos ensaios. Acredito que também ganhei mais segurança para a minha próxima direção.

Como você se sente por seu filme ser o último trabalho do Cláudio Cunha no cinema?
É um misto de uma tristeza terrível de ele ter partido e uma honra enorme de ele ter me dado essa oportunidade. É uma responsabilidade tremenda ter feito o último filme dele, e me dói profundamente que ele tenha ido sem poder assistir ao nosso filme.

Lembranças de Mayo vai ser exibido em mais festivais?
O filme foi convidado para a mostra Vingança dos Filmes B, em Porto Alegre, e mesmo no Cine Under, no Recife. Por enquanto, essas são as exibições marcadas. Mas agora vamos começar a enviar para todos os festivais e mostras. Espero que tenha uma carreira interessante e seja visto pelo maior número possível de pessoas.

Quais são seus novos projetos?
Não tem nenhum filme prestes a ser realizado agora. Os projetos ainda estão em fase de argumento ou roteiro. Posso dizer, sem dúvidas, que a Boca tem influência em tudo que fiz/faço/fizer. Mas meus próximos projetos não terão essa relação tão explícita com a Boca como o Lembranças de Mayo.

Mais fotos da exposição de Mojica no MIS São Paulo

Viewing all 683 articles
Browse latest View live